segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Estamos diante do fim do cafezinho?

Quando saboreamos a primeira xícara de café do dia, as mudanças climáticas podem parecer uma ameaça distante. Mas basta viajar para o local de origem da bebida para ver que a turbulência ali é bastante real.


Peguemos o exemplo dos produtores de café do Estado de Chiapas, no México, recentemente entrevistados para uma tese da geógrafa Elisa Frank, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara: até pouco tempo atrás, eles estavam acostumados com chuvas fracas e regulares; mas hoje assistem a tempestades violentas ocasionais que inundam suas plantações.

"Antigamente não chovia tanto, mas hoje as plantas produzem menos frutos, que caem antes da hora porque ficam úmidos", disse um fazendeiro.


No passado, o clima na região era estável e ameno. Mas hoje a temperatura oscila entre um frio que paralisa o crescimento e um calor que resseca o fruto antes de eles poderem ser colhidos.

Mudança de hábito
As consequências dessa situação podem, em breve, desaguar na padaria da esquina.

O mundo atualmente consome 2 bilhões de xícaras de café por dia. Como é possível garantir que a bebida continue fluindo quando as plantações estão sendo devastadas por condições climáticas extremas? E se os produtores não conseguirem atender a essa demanda, será que chegaremos ao "Pico do Café"?













Os desafios do arábica
O problema surge, em parte, por causa da sofisticação atual da bebida. Existem dois tipos principais de café comercial: o arábica, mais aromático, e o robusta, mais amargo. Por causa de seu sabor complexo, o arábica é o grande favorito mundial, respondendo por 70% do café consumido no planeta.

Mas essas qualidades custam caro para o cafeeiro. O arábica é muito mais sensível do que o robusta, que não tem esse nome por acaso.


Os delicados cafeeiros arábica simplesmente sucumbem às condições novas e imprevisíveis decorrentes do aquecimento global.

"A floração do cafeeiro dura apenas 48 horas. Se algo acontecer nesse período, como uma grande tempestade, a plantação inteira é destruída", explica Ainhoa Magrach, do Instituto de Ecossistemas Terrestres, em Zurique, na Suíça.

Futuro amargo
Calcular os custos a longo prazo não é simples. Mas, analisando a colheita na Tanzânia desde os anos 60, uma equipe de pesquisadores descobriu que a produtividade caiu de 500 quilos por hectare para pouco mais de 300 quilos por hectare.

E o mais importante: a queda parece acompanhar um aumento da temperatura de 0,3ºC por década, com uma redução nas chuvas.

Tudo isso contribui para um futuro amargo. Usando os últimos dados sobre mudanças climáticas em todo o mundo, os cálculos de Bunn preveem que o território mais adequado ao cultivo do arábica pode diminuir em 50% até 2050.















O robusta e o meio ambiente
Mas como ainda haverá demanda, outros produtores poderão aderir ao café, o que poderá custar caro ao meio ambiente. Magrach recentemente mapeou as áreas adequadas à produção do arábica e as comparou a regiões de interesse natural. No pior dos casos, vamos precisar invadir 2,2 milhões de hectares de florestas nativas para atender à demanda prevista.

O resultado poderá ser uma perda significativa de biodiversidade.

Outras soluções melhores ainda existem. Por causa de sua resistência, o robusta terá mais condições de se adaptar às mudanças. Os modelos de Magrach sugerem até que o habitat preferido dessa variação poderá aumentar.

FONTE Méritos dessa Publicação BBC Brasil
Anterior Inicio

0 comentários:

Postar um comentário